Deixa passar. A bebida ajudou. Sem dúvida. Trouxe
a dúvida. Prometeu pegar mais leve da próxima vez. O som dos
Trilhos Urbanos ainda estava muito alto dentro daquele silêncio. Olhou para o
espelho e na primeira mão d´água borrou-se inteira. Nessa hora a ressaca já
dava o seu ar da graça. Tão cedo assim? Latente e pulsante! Momento de pouca
paciência. Ausência dela. Menos palavras, menos gestos. A cabeça dói. O teto
gira. Pior impossível. A voz não a acalma nem um pouco. Soa como pequenos insetinhos
voadores abanando seus ouvidos. Pode parar? Não quero hoje. Na verdade, hoje
não deu e por hoje já deu.
Após uma noite conturbada ela preferiu
virar-se para o outro lado e dormir. Aquela companhia não era tão desejável
para o momento, porém necessária. Gosto e cheiro lembravam sonhos antes não
vividos. Eram estranhos. Mesmo com o calor do toque a sensação era de bruta
solidão. Essa mesmo que a cada suspiro lhe arrancava pedaços de dentro. O jeito
mesmo era adormecer. Esquecer e torcer para o tempo correr. Tic-tac tic-tac! O
mais depressa possível. Com toda destreza e sabedoria que somente ele
tem. A arte do acostumar-se sem esquecer. Do
sofrer sem ter que perceber. Do sentir sem ver o mesmo passar.
Já está deitada. Um sussurro, uma voz doce e quase perfeita que diz: "Então, façamos
um trato? Sem pestanejar e de maneira sonolenta ela responde. "Sim Caetano. Trato feito".
De olhos bem fechados e até amanhã...