sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Só alegria

  Definitivamente o Museu da República é um lugar especial para shows em Brasília. O espaço é democrático e o visual de tirar o fôlego. Ontem, várias atrações passaram pelo evento Celebrar Brasília. A grande expectativa ficou por conta da apresentação do paulistano Criolo. De fato, houve retribuição. Particularmente, foi o meu primeiro. Chamou muita atenção. A desenvoltura em cima do palco, o constante  diálogo com o público, a banda numa pressão incrível e a capacidade de alternar um vocal melódico com falas e o rap fizeram do mesmo a confirmação de tudo que falavam a seu respeito. Um artista que ainda nos dará belas contribuições. 
  Outra grata surpresa foi o projeto brasiliense Funkeando, idealizado pelo produtor e amigo Pedro Batista e DJ A. Uma banda sem igual nessa cidade. Com toda certeza. Se o Criolo abalou o Funkeando segurou. Mesmo querendo ir embora, o público não conseguia tamanha era a vontade de dançar ao som dessa trupe.
  O cair da noite foi finalizado com uma bela lição de vida. Figura cativa na noite calafiana da cidade encontrei, juntamente com o amigo Monte, Dudu e seu andador. Esboçando a mesma alegria de sempre nos pediu uma carona até sua casa. Impossível negar um pedido a uma pessoa como ele. Apesar de toda dificuldade com a fala e locomoção o mesmo não se priva da liberdade e, principalmente, da diversão. Até chegar, conversamos muito e pude conhecer um pouco mais sobre essa pessoa que esbanja, acima de tudo, amor à vida. 
  Ao vê-lo entrar em casa lentamente e, ainda por cima, preocupado com a nossa saída, percebi que somos abençoados e que gestos tão simples podem nos fazer repensar a grandeza do real motivo que é viver. Repetidamente ele nos falava: só alegria, só alegria amigos. E assim voltei pra casa. Pensando na alegria que é conviver, compartilhar e se permitir. Realmente Dudu você tem toda razão. Só alegria, só alegria é o que interessa amigo!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Eu só quero chocolate

  O maior medo de um artista é ver sua fonte secar. Talvez esse seja o pesadelo menos desejado por nós. O cano de inspiração de vez em quando entope e sentimos um leve receio. Não ter idéias é desesperador para qualquer pessoa. Disso tenho certeza. De onde surge essa mágica que nos leva a ter o famoso clique produtivo? Acredito que qualquer coisa pode nos impulsionar, mas isso é muito relativo. Uma alegria, a tristeza, uma lembrança, uma cena ou acontecimento e etc...
  Ontem me deparei com um assalto num supermercado - odeio supermercados. Já era madrugada e notei um clima diferente entre os funcionários do mesmo. Resolvi não dar muita bola e segui à caça do meu único objetivo ali dentro: um chocolate. Em poucos segundos de  busca visualizei algo que não costumo ver em certos locais. À frente um rapaz caminhava de forma bruta e veloz empunhando um facão na mão esquerda.   Seus olhos estavam manipulados e causavam certo espanto. Mais uma vez achei a situação bem esquisita, mas minha ânsia por um chocolate era maior que a preocupação de cogitar que aquilo poderia ser um assalto.
  Assim como se fossem dois clientes à procura de algum produto nos cruzamos sem comprometimento ou um "boa noite" - não é de se espantar, afinal moro em Brasília. Só tive a certeza que algo de anormal acontecia quando um dos funcionários me abordou e comentou sobre o fato. Branco feito uma bola de neve me pediu ajuda para contatar a polícia. Reclamou, com razão, a todo o momento sobre sua condição de trabalho e repetiu que essa seria sua última noite por lá. Confessou também ter sido a décima vez que algo do tipo acontecia e que os homens da lei nada faziam. 
  Já com posse do meu sonhado chocolate e livre de qualquer incidente de risco voltei pra casa bastante pensativo. Eureca! O enredo estava pronto. Não foi nada fantasioso ou inventado, mas poderia sim ser contado ou expressado de várias maneiras sem uma modificação do seu real sentido. No final das contas ficaram duas lições disso tudo: Percebi que com uma boa dose de atenção o "cano de inspiração" jamais se entope; e ao deparar-se com um Jason sustentando um facão na mão em um supermercado não esqueça jamais do seu chocolate!








segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Muito Romântico

Não tenho nada com isso nem vem falar
Eu não consigo entender sua lógica
Minha palavra cantada pode espantar
E a seus ouvidos parecer exótica
Mas acontece que não posso me deixar
Levar por um papo que já não deu, já não deu!
Acho que nada restou pra guardar ou lembrar
Do muito ou pouco que houve entre você e eu...
Nem uma coisa virá me fazer calar!
Faço no tempo soar minha sílaba
Canto somente o que pede pra si cantar
Soa o que soa eu não douro a pílula
Tudo o que eu quero é um acorde perfeito maior
Com todo mundo podendo brilhar num cântico
Canto somente o que não pode mais se calar
Noutras palavras sou muito romântico
(Caetano Veloso)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Se fosse acabar assim

  Muitos se abraçariam. Outros desejariam poder pagar para serem abraçados. O mundo revelaria seus segredos mais profundos e sacanas. Padres rezariam, mas outros rasgariam a batina. Aos poderosos, de nada mais adianta o poder. Negros, gordos, ricos, cabeludos, brancos, mendigos, carecas, mestiços, traficantes, evangélicos, homossexuais, índios e rastafáris. Verdadeiramente não haveria distinção alguma entre nós. Estaríamos todos no mesmo barco. 
  Agora a ambição é um sentimento inexistente e os interesses tornaram-se completamente outros. O dinheiro é apenas um pedaço de papel. De diferentes tamanhos e cores. Queima ao tocar fogo. Amassa se pisado. Nas esquinas quase tudo vazio. Comércio, lojas, supermercados, estoques e feiras. Não tem comprador. Não há propaganda, notícia ou programas.  Os cinemas estão vazios e os jornais fechados. 
  Não existe caus. Pessoas escandalosas correndo pelas ruas. Revolta da natureza ou guerra biológica. Existem apenas decisões, escolhas e desejos. Tudo meramente humano, espiritual e carnal. Nada mais.
  Esta leitura é apenas uma reflexão simples e de resposta única. Se o mundo fosse acabar num toque de um botão de "desligar" e, te restasse apenas um único dia, o que você faria?  

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Um final feliz, por favor.


  Essa noite estive com você em um sonho. Não vou mentir que gostei, mas parando pra pensar não tive muita escolha. Afinal de contas, muito cansado da madrugada, só deitei e fechei meus olhos. E lá estava você. Ainda a mesma, aparentemente. Altura, sorriso, cheiro, toque e expressões. Poucas coisas realmente mudaram. Reparei apenas um tique novo com os dedos da mão esquerda. Deve ser alguma coisa relacionada à malhação, ansiedade ou ele sempre existiu e eu nunca me dei conta.
  Nesse mesmo sonho não havia preocupação com o tempo. Ele estava parado e poderia ter a duração de um sono perfeito. Distante de opiniões, obrigações mapeadas, ordens e devaneios burgueses estávamos completamente blindados. Com essa proteção sentimos o amor fluir na sua essência mais pura e verdadeira. Como as notas de Pérola Negra conversávamos por música. Um som que soaria bem até mesmo aos ouvidos de um sonâmbulo. 
  Em momento algum pensei em acordar. Tampouco passou pela cabeça uma hipnose eterna. Queria estar ali o tempo ideal e necessário. Sem miséria ou gula demais. Não sei exatamente quanto tempo durou, mas foi o bastante para recordar muita coisa.    
  Inevitavelmente meus olhos se abriram. O som do ventilador invadiu o ambiente e trouxe de volta a realidade. Só não mais bruta que o calor que faz esse mês. Em questões de segundos lembrei-me de tudo. Era consciente. Era um sonho. Entre uma espreguiçada e um bocejo de desperto pequenos flashes me confirmavam. Não houve um fim. Nem mesmo um início. Não houve despedida ou uma recepção de chegada. Um adeus ou um "oi" de entrada.  Não houve enredo. Foi só um sonho.
  Antes de levantar, mas não menos frustrado pela falta do "the end" ou fritado pela alta temperatura do dia cheguei a uma única conclusão: Acredito que sonhos, por mais que pareçam reais, geralmente são fantasiosos e fantasias obrigatoriamente deveriam ter uma merda de um final feliz. Não quero ter que imaginar num possível fim ou pensar em repetir um sonho pra esperar ver as letrinhas subirem. De agora em diante, que vire lei na terra, no céu e no inferno. Com a ordem jurídica de Deus e a contestação imediata do Diabo. Que assim seja e estejamos combinados.      




quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Ilha da fantasia


  Sempre fui um moleque pouco atento. Gostava de fazer tudo ao mesmo tempo. Pirava sozinho em histórias inventadas geralmente perdido em alguma ilha deserta. Eu e meu fiel escudeiro "Marmaduque" - meu cachorro. Dessa maneira passava horas brincando e falando sozinho. Tinha um defeito grave de perder minhas coisas. Muito por falta de organização, segundo meu pai.  Largava tudo em qualquer canto e ia me envolver com outra situação.
  Assim cresci. Perdi e achei muitas coisas ao longo da vida. Perder sempre foi aquele horrível frio na barriga. Ainda mais quando era apegado. Achar era muito mais gostoso que ganhar pela primeira vez. Talvez fosse a sensação do retorno. E não podia ser um novo igual ou parecido. Tinha que ser aquele meu. O mesmo que estava perdido. Aí pronto! Tudo resolvido.   
  O tempo passou e inevitavelmente continuei perdendo e achando. Um processo inesgotável. Há poucos, dei por mim e percebi ter perdido parte da minha essência. Em busca dela senti falta de várias outras "coisinhas". Algumas recuperáveis, mas outras já não mais. Coisas da vida. Isso tudo faz parte dos caminhos que escolhemos. Uma rua sem saída nos dá quilometragem em dobro. Percorremos duas vezes. E isso já deve bastar. Esse é o tal do aprendizado. Por mais duro que seja é o que nos faz crescer como seres humanos.
  Sei que não tenho mais dez anos - muito menos aparento, também sei -, mas sinto a minha ilha da fantasia cada vez mais próxima. A busca em torno do "eu" não pára. Ser feliz é sempre o objetivo principal enquanto estivermos aqui. De qualquer maneira, caso alguém ache alguma coisa minha perdida por aí, por favor, entre em contato. 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Recordar faz feder

"Quanto mais me recordo
Mais me embaraço em nós de vergonha
De olhos vendados
Num enredo predestinado ao fracasso
Prometo simplificar ao máximo minhas palavras
Não te empresto minha riqueza
Nem troco por um gole desse espumante barato
A máscara caiu, quebrou-se em pedaços
E o que ficou pra trás não me seduziu..." 









domingo, 9 de setembro de 2012

Intuição posta à prova


  Uma arma quando bem utilizada. Aquela sensação que não explicamos. Muitas vezes levamos em consideração, em outras ignoramos o feeling e segue o jogo. Até podemos sucumbir temporariamente a uma cegueira (in)voluntária, mas como diria o velho Capitão do mar, diplomata e Poeta: "Tem sempre um dia em que casa cai". Felizmente a natureza é perfeita e dificilmente erra. 
  O senso intuitivo é visto pela psiquiatra suíço, Carl Jung, como a sabedoria e o conhecimento que cada um de nós necessita em seu próprio interior. Aprender a confiar na intuição é um desafio - a falta de conhecimento assusta. Posteriormente, a confirmação - caso aconteça - se torna a cereja do bolo. O que era sensitivo se torna palpável e retomamos o curso normal dos nossos cincos sentidos.
  É claro que nosso "radar" é bombardeado diariamente com cargas pesadas de emoções. A sensibilidade e percepção são individuais e variam de pessoas para pessoas. Fato é que, os sinais aparecem nas formas mais diversificadas e, na maioria das vezes, se camuflam num mimetismo desgovernado.  
  Na velocidade em que o mundo rodopia tampar os olhos para questões básicas podem custar muito caro. Errar ainda é humano. Ignorar o que está errado é estupidez e total perda de tempo. A intuição bate à sua porta a qualquer momento. Cabe a você ser um bom recepcionista ou apenas deixá-la do lado de fora.

          

Bata na porta antes de entrar


 
  Parece que a brincadeira só começou. Há dois dias fizemos o segundo show da turnê "Corre Pro Mar", do Surf Sessions, em Santo Antônio do Descoberto (GO). Uma estrutura grande e toda nossa. Som, palco, iluminação e decoração. Fomos bem preparados e com nossa equipe mais que afiada. 
  O cansaço bateu, mas a recompensa veio em forma de música e reconhecimento dos fãs no local. Essa é, sem dúvida alguma, o nosso maior estímulo. Poder levar o som e ser retribuído com muita energia. Viveria assim o resto da minha vida.
  No dia seguinte, já de volta à Brasília, mais labuta. Show do S.S. em um evento digno de cartão postal. Lugar incrível, estrutura "gringa", bom gosto na decoração, uma bela feijoada e pessoas bonitas. Nós, como anfitriões, receberíamos uma banda do Rio de Janeiro. Grupo cover de Jorge Ben, Seu Jorge, Tim Maia, Raça Negra, Salgadinho, Alexandre Pires entre outros gênios da Música Popular Brasileira - sim, estou sendo irônico pra cacete. Ótimos músicos, som redondo, repertório feijão com arroz, batata frita e carne moída. Enfim, todos os motivos para a alegria dominar o ambiente. 
  O problema é que o mundo da música às vezes nos prega algumas peças. A soberba, o ego, a falta de humildade e o desrespeito andam lado a lado numa contradição inexplicável. É claro que temos que pensar no profissionalismo, porém quando ele existe conseguimos sentir o cheiro há quilômetros de distância. No caso, não fedia nem de perto.  
  Não foi a primeira e nem será a última vez que vou me encontrar em uma situação dessas. A comparação do ser humano se torna inevitável. Nessa hora, olho pra cima e agradeço muito a educação que recebi dos meus pais e que vou levar comigo pra onde for. Sei de onde vim e sei pra onde vou.  Reverencio meus companheiros de banda pela mesma sintonia e berço. O resto? A gente dá risada e só torce pelo crescimento e enriquecimento da alma alheia.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Encontro com um anjo


  Essa noite sonhei com a Liberdade. Era tão linda e meiga. De pele clara e cabelos lisos, naturalmente lisos - que fique claro. Olhos que variavam sua tonalidade ao confrontar a luz. Algo perto do verde-mel. Neles, pude perceber todo seu deslumbre. Por um instante quase nos tocamos. Ao sentir que não seria possível apenas observei. Tal como alguém quando se apaixona à primeira vista.
  Pensei se esse momento seria mesmo consciente, mas num som quase mudo escutei ao pé do ouvido: "Sou o que te tornas humano. Sou o seu sorriso, quando assim o quer. Sou suas lágrimas, quando choras. Os seus receios e sua força para vencer. Sou sua corrente e suas asas. O seu desejo de ir e o de ficar também"... E assim, num fade out perfeito, seu sussurro antagônico se esvaeceu entre palavras.
  Abri os olhos. Nem um pouco assustado ou desacreditando no tal encontro. Passei o dia pensativo. Lembrei das frases soltas. Do sim e do não. Do escuro e do claro. Pensei em como eu realmente via minha liberdade. Algo de fato mudou. Lembrar apenas do direito de ir e vir seria tão simplório. 
  Em referência à Sartre; a liberdade é a condição antológica do ser humano. Nós somos nada antes de nos definirmos como algo. É como um livro aberto pronto para ser rabiscado, escrito, colorido, rasgado, bordado e etc... Mas preenchido, oras! De alguma forma, escolha e caminho traçado. Isso sim é ter liberdade: Viver nossa biografia diária. Seja ela como o autor desejar compor.  
  Terminei o dia confortado com meu encontro, pensamentos e conclusões. Estiquei os braços e dei aquele suspiro longo e quase totalmente aliviado. Algo ainda me incomodava. A bendita da Liberdade não sumia da minha cabeça. Afinal de contas, vai ter uma Liberdade gostosa assim lá na casa do car%$#@...!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Até 3



  Parar e contar até três. É claro que nada muda ou se transforma em uma mera contagem. Nossa reflexão é um pouco mais lenta, mas certeira. Até onde nossa mente é capaz de nos levar em momentos de apreensão, medo, nervosismo, ansiedade, baixa estima e etc? O mal dos novos tempos é a velocidade em que vivemos hoje em dia. Precisamos, mais do que nunca, de resultados e que sejam imediatos. 
  É preciso sim, às vezes, respeitar nossa "placa mãe" e optar pela calma. Respirar e respirar. Por tempo indeterminado, porém em busca de um resultado satisfatório. Um objetivo. Agir, enxergar melhor e com consciência se torna a chave questão. E tudo muda. Postura, pensamento, respostas e atitude. Num novo momento de reflexão já sofremos uma mutação. E novamente tudo mudou de plano. Ufa!  
  Permita-se. Por mais demorado que seja contar até três. Uma respirada a mais pode fazer toda a diferença na vida.