quinta-feira, 23 de maio de 2013

Relação light

  Tenho certeza que não é uma relação unilateral ou platônica. Acredito também que sua família é oriunda do sul do país ou, pelo menos lá no alto de seus galhos genealógicos, uma proximidade existe. Não faço idéia dos anos que possui. Se já é centenária ou se mal chegou aos vinte e cinco. Pouco importa. 
  De tempos em tempos - e realmente muito tempo - me pego realizando certa visita. Nada programado e de repente: Puft! Lá estou. Não recebo convite formal ou chamado espiritual. Simplesmente quando percebo já cheguei. Seja por um motivo besta qualquer ou algo descomunal. Coberto por sua enorme copa vejo o mundo que me rodeia. Por mais louco que seja, preciso confessar: Descobri ter uma amizade com uma árvore. 
  A relação é light. Sem cobrança ou mensagens de Whatsapp. Não me preocupo caso ela não ligue no meu aniversário ou no natal. Entendo suas razões. Realmente entendo. A tecnologia nunca foi seu forte. Acredito que uma boa amiga deve ser, impreterivelmente, uma excelente ouvinte. Humm! Essa é sua maior virtude. Me escuta horas a fio e responde todo o resto em absoluto silêncio. Sempre reconheceu ser uma árvore de poucas palavras. No final das contas, isso também nunca me incomodou. Pelo contrário. Enjôo rápido de gente que fala demais.
  Não sei ainda quando volto a vê-la. Não marcamos dia ou horário. Nem mesmo um programa combinado. Ela não é muito de sair. De repente bate uma saudade e a gente se encontra. Colocar a conversa em dia e relembrar outras várias histórias antigas. Se eu demorar para aparecer ela deve ligar. Tenho certeza que atenderia catatonicamente surpreso. Depois bem feliz. Sem dúvida. Como uma rajada de vento forte num pensamento estaria lá; brevemente acolhido por suas sombras e de papo totalmente pro ar.    

 

terça-feira, 14 de maio de 2013

O beijo


  Dizem que antigamente era costume mandar beijos para os deuses. As primeiras referências encontradas para um dos atos mais humanos. Uma forma de afeição, devoção e reconhecimento. Na Escócia medieval, era normal o padre beijar os lábios da noiva. Acreditava-se que a fidelidade conjugal dependia dessa benção.
  O beijo! Ele que envolve tanta química, jeito, gosto e até sabores. É a verdadeira conclusão do pós-verbal - ou assim deveria ser. Um beijo doce ou um beijinho estaladinho. Se o beijo é roubado vai pagar caro se o beijo for demorado.
  Um beijo doce ou um beijo ligeiro. Beijinho facinho ou muito molhado. Beijo selinho, cinematográfico, de arrepio ou de borboleta. Beijo de Drácula ou Titanic. Beijo francês ou de meros amigos. Para os curiosos durante um beijo você movimenta 29 músculos, dos quais 17 são da língua. O coração acelera e vai de 60 a 150 batimentos. Sem contar na perda de doze calorias, dependendo do beijo, é claro! 
  E quem é que não quer ser beijado?! Se for somar quanto é que vale um beijo? Beijinho apaixonado um preço nem tem discussão. Para todo beijo nenhum amor reclama. Quem não quer ser beijado por quem ama?! É beijo que vem e é beijo quem vai. O melhor beijo é o do grande amor! 

Idéias e referências retiradas da música - "Beijinho " (Alex Sousa). 



segunda-feira, 13 de maio de 2013

Eu leio

  Uma música achada esses dias. Vem da Bahia. Fonte máxima de inspiração para vários poetas, artistas e sonhadores. A composição é de Pedro Pondé, na época fazia parte da sua ex-, mas atual banda chamada Scambo - é tipo relacionamento conturbado que vai, vem, volta e sai. Pondé é desses que deveriam ser descobertos por seu talento nato de quem tem a arte naturalmente correndo dentro de suas veias.
Fica a dica para uma boa leitura e/ou um bom som: 


"Eu leio gestos e intenções
Palavras não me enganam mais
Quando são só sonhos,quando são só sonhos
Não me tocam
Sorrisos não me iludem mais
Eu leio gestos e intenções
Quando o olho trai, quando o olho trai
Não me atrai, eu não vejo a minima graça!

Você pode duvidar se quiser
Se quiser perder seu tempo, seu precioso tempo
Você pode o que quiser, se puder
Meta a cara nesse espelho !

Eu leio, eu leio, eu leio gestos e intenções
Palavras não me enganam mais
Quando são só sonhos, quando são só sonhos
Não me tocam

Você pode duvidar se quiser
Se quiser perder seu tempo, seu precioso tempo
Você pode o que quiser, se puder
Meta a cara nesse espelho !

terça-feira, 7 de maio de 2013

Assim são para sempre felizes

  Esses dias estive num sarau do Vinícius de Moraes. Sou fã incondicional do poetinha. Desde suas obras musicais quanto suas crônicas, textos e poemas. Prestei bastante atenção em diversas passagens naquela noite e pude perceber um fato: saber falar de amor é uma missão para poucos.
  Ao tentar buscar o tema e começar a escrever me preocupei, pois as coisas poderiam ficar muito bregas, derretidas demais ou até mesmo confusas a quem inicia na tal arte. Esses dias procurei estudar para me aprimorar e até mesmo tentar entender um pouco mais a respeito. Sempre ouvi por aí sobre almas gêmeas relacionadas a histórias de amor. Entretanto, Manuel Bandeira não concordou muito: "Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma. A alma é que estraga o amor".
  Da poetisa portuguesa Florbela Espanca veio meu nocaute mais forte. Fiquei bastante atordoado com o que li. Sempre concordei com o fato do amor se transformar do singular para o plural - vide Vinícius de Moraes casado por nove vezes. Mas nesse caso... "Eu quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: Aqui... além... Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente. Amar! Amar! E não amar ninguém".
  A quantidade de obra literária ao pesquisar textos que falam sobre amor de uma maneira "brega", "infantil" ou "engraçadinha" foi o que mais me surpreendeu. Desde nomes muito conhecidos a diversos românticos anônimos o arquivo é vasto - e olha que preferi não ir muito a fundo e acabei deixando o Sertanejo Universitário de fora. "À noite, estava olhando as estrelas tentando dar a cada uma delas um motivo de por que gostar tanto de você. Sabe o que aconteceu? Faltaram-me estrelas"!
  Há também o estilo poético malandro. O estudioso da vida que sabe trabalhar com palavras de difícil compreensão, mas que quando precisa é simples sem fazer o menor esforço. Diz aí Chico: "Quando nos apaixonamos, poça d'água é chafariz. Ao olhar o céu de Ramos vê-se as luzes de Paris".
  Do brega ao sem nexo, do infantil ao poético uma coisa é certa: Escrever sobre o amor é uma missão para poucos. Poucos que pouco se importam com estilo e sim com que o que está sendo dito. Poucos que preferem o risco da exposição a ter que guardar tal momento. Poucos que fazem da vida uma eterna frase romântica e assim são para sempre felizes.