Nós? Queremos mudança. O povo? Necessita mudança.
Tenho
digerido de uma forma muito estranha tudo isso que tenho visto, ouvido e
lido. Apesar do interesse e educação política que sempre tive dentro de
casa sempre me enojei muito de tudo. Escândalos, falta de
credibilidade, frustração eleitoral, situação básica do país, entre
outros pontos ofuscaram a luz da minha esperança. Há duas eleições
somente executei dois votos para o mesmo candidato. Isenção do ato de
cidadão? Claro que não! Simplesmente falta de opção.
Faço parte de
uma classe pouco atingida por nossa REAL situação. Tive oportunidade de
estudar em colégios particulares, acesso à hospitais particulares, moro
num bairro seguro e sempre tive uma possibilidade de vida completamente
diferenciada. Faço parte de uma minoria. Nem por isso não pensante,
ausente, manipulada ou cega. De qualquer forma, a indignação nunca saiu
das rodas de conversas, participação em movimentos pseudo-históricos e
consciência político-social. Querendo ou não a inércia cômoda nos suga e
assim, mesmo indignados, tocamos em frente.
Os últimos
acontecimentos me fizeram refletir sobre a origem disso tudo. Não de uma
forma superficial retratada apenas em imagens; fossem elas de
manifestações pacíficas ou em atos de vandalismo. No encontro de
segunda-feira me arrepiei por diversas vezes. Vi estudantes, idosos,
crianças, homens e mulheres que cantavam e conversavam em grupos.
Imagens que me marcaram de uma forma muito positiva. Senti orgulho de
Brasília. Subi tranquilamente na área externa do Congresso sentei e mais
uma vez me emocionei com aquela visão e situação vivida. Achei,
sinceramente, que nunca viveria para ver tal coisa.
Três dias
depois a coisa mudou. O clima mais tenso, o povo mais disposto, a
polícia a postos. Ouvi o hino ser cantado por 35 mil pessoas. O arrepio
voltava. Vi mais crianças, mais idosos e mais estudantes. Pude ver
também a participação do povo das cidades satélites - visivelmente
ausentes na segunda-feira. Vi baderneiros, pessoas que não sabiam por
qual motivo ali estavam e pessoas muito atuantes.
De repente a
imagem era de uma guerra civil. Pude ver tudo de perto e, mesmo
preocupado, me forcei a permanecer ali. Muito fogo, bombas, gás, pedra e
a grande multidão assustada. A depredação era visível e o alvo naquele
momento era o Itamaraty. Tudo durou cerca de uma hora e logo foi abafado
e dispersado pela ação da polícia.
Ali, naquele momento, minha
cabeça entrou num processo de mutação. Não sou a favor da violência, do
confronto, depredação, baderna e outras palavras que tornaram-se "nova
tendência" do nosso cotidiano. Tampouco, assumo com muita sinceridade,
senti raiva daquilo que vi. Assim como não senti raiva das imagens de
vandalismo que pude ver em São Paulo, Rio de Janeiro e demais capitais e
cidades. Minha raiva estava voltada para outro lado. Meus olhos queriam
ver algo mais fundo e me dar outras respostas. Logo pude enxergar a
falta de apoio a educação, os hospitais públicos em péssimo estado, a
falta de segurança nos quatro cantos do país, a superfaturação ANUNCIADA
dos estádios da Copa do Mundo, os escandalosos de políticos de
esquerda/direita exercidos há mais de vinte anos, criações de PECs
absurdas, entre centenas de outras questões que poderiam ser
explicitadas aqui. Quem quebra, depreda, saqueia, confronta é chamado de
bandido ou burro. É tirado de um movimento por vergonha dos seus atos. A
minha pergunta é: Fazemos parte de um mesmo sistema? E que sistema é
esse? Quem faz parte desse sistema? Será que se eu visse meu filho sem
estudo e associando-se ao tráfico eu não seria um desses "burros"? Ou se
perdesse meu pai numa fila de hospital entupida de doentes não
atendidos por falta de médico eu não me tornaria um verdadeiro
baderneiro? Quem sabe... Isso vai muito além de simples cenas de
quebra-quebra, opiniões patrimoniais ou sentimentalismo patriótico. Nós?
Queremos mudança. O povo? Necessita de mudança.
Sou contra o
terrorismo. Definitivamente. Muito menos serei um terrorista nessa
vida. Entretanto, chego a triste conclusão que perdemos um pouco o
compasso e os gritos de ordem e progresso, mesmo sendo ecoados por 300
mil pessoas pacíficas nas ruas, não afetará as decisões e reciclagem do
nosso governo. Esses mesmos governantes que assistem tudo tranquilamente
da tela de suas TVs. Os atos geraram medo. Foram noticiados para o
mundo inteiro. Pessoas foram feridas. Outras prejudicadas. Quem são os
verdadeiros culpados disso tudo, eu pergunto?! A parcela mínima de
vândalos, desorientados, estúpidos e baderneiros sem-causa? NÃO e NÃO!
Não concordo. Nossos verdadeiros vândalos nos governam, foram eleitos
pelo país, e depredam nosso patrimônio (nossa vida) diariamente. Não se
caça tubarão sem sangue na água, já dizia o pescador.
Terei o
maior prazer em colaborar com toda ideia em aumentar a
produtividade das ações pacíficas, em conversar, debater e comparecer no
que for preciso. Também aceitarei críticas construtivas e gostaria
muito que novos acontecimentos mudassem a minha opinião. Ser convencido,
com embasamentos reais, de que essa revolução possa acontecer com
flores e sem armas.
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